sábado, 8 de novembro de 2008

Será que o seu filho precisa de Terapia da Fala?

Muitas vezes os pais vão a uma consulta de desenvolvimento com os filhos e são confrontados com um encaminhamento para Terapia da Fala, ou na Escola os professores/educadores reparam em comportamentos linguísticos que lhes chamam a atenção por não serem considerados os mais adequados para a idade da criança. Estas duas situações são aquelas que mais sucedem e que frequentemente confrontam os pais com um problema que até ali não existia, deixando-os preocupados e renitentes. Mas, será que é necessária toda essa preocupação? O que é afinal a Terapia da Fala? Quais são os sinais a ter em conta? São as respostas a estas perguntas que procuramos esclarecer, assim como também a outras que possam surgir.

O que é a Terapia da Fala? Quais são os seus objectivos?

Segundo o D/Lei 261/93 de 24 de Julho, a Terapia da fala consiste no desenvolvimento de actividades no âmbito da prevenção, avaliação e tratamento das perturbações da comunicação humana, englobando não só todas as funções associadas à compreensão e expressão da linguagem oral e escrita, mas também outras formas de comunicação não verbal.

O Terapeuta da Fala intervém em todas as situações de patologia da fala, da voz e da linguagem oral e escrita, na criança, no adolescente, no adulto e na pessoa idosa independentemente da sua etiologia. É um profissional a quem compete a prevenção, a avaliação, o tratamento e o estudo científico da comunicação humana e das perturbações associadas (Definição do Comité Permanente de Ligação dos Terapeutas da Fala da União Europeia – CPLOL, 1999).

Tendo em conta estas duas principais definições do que é a Terapia da Fala podemos então dizer que esta está associada à comunicação humana (fala e linguagem), assim como também a perturbações relacionadas com as funções auditiva, visual, cognitiva, orofacial, da respiração, da deglutição/mastigação e da voz. A intervenção terapêutica nas crianças envolve terapia, reabilitação e reintegração no meio social, bem como uma intervenção precoce, orientação e aconse­lhamento aos pais, técnicos e professores.

O objectivo da Terapia da Fala é promover a eficácia comunicativa da criança no seu meio social, educacional e profissional, tendo em consideração quer as suas características pessoais, quer as do meio envolvente.

Quais os sinais a ter em conta?

Nas crianças os sinais a ter em conta para que estas devam ser encaminhadas para Terapia da Fala surgem desde cedo e podem estar relacionados com a linguagem, fala e deglutição/mastigação. Numa fase mais avançada (idade escolar), podem também surgir sintomas relacionados com as dificuldades de aprendizagem e com a voz, aos quais também se deve dar atenção. De seguida falaremos de cada um deles.

Linguagem

No desenvolvimento da linguagem, a criança passa por várias etapas em dife­rentes idades, adquirindo novos conhecimentos linguísticos. Pode acontecer manter-se numa etapa do desenvolvimento por mais tempo do que seria esperado para a sua faixa etária, não conseguindo avançar, surgindo então os sinais de alerta.

Devemos estar atentos se até ao 1º ano de vida o bebé é silencioso e não vocaliza ou se não reage a sons nem emite padrões de entoação. A partir do 1º ano os sinais que podem surgir são a não reacção ao nome, a não utilização do gesto e o facto de não reconhecer a utilidade dos objectos nem dizer palavras.

Durante o 2ºano é importante reparar se a criança ainda não fala e só produz vogais, não utilizando palavras ou frases simples; se não reconhece objectos, se não exprime com palavras ou gestos as suas necessidades, se não nomeia ou se não cumpre ordens simples nem presta atenção.

Aos 3 anos podem surgir sinais como demonstrar dificuldades em produzir uma frase completa, em compreender pedidos/recados e em desenvolver conceitos numéricos e espaciais, assim como também não acompanhar as outras crianças da mesma idade (ex. tem dificuldade em aprender as canções ensinadas) ou ter um vocabulário reduzido.

Aos 4/5 anos deve ter-se em conta se o seu discurso é pouco estruturado, sendo só compreendido pelos pais, ou se não consegue descrever acontecimentos. A partir dos 5 anos é importante reparar se existe uma estruturação incorrecta das frases.

Durante estes 5 anos é importante ter a noção se simplificamos ou não a nossa forma de falar para que a criança nos entenda, pois se o fazemos é porque há uma falha na compreensão da mesma.

Fala

Se a criança omite ou troca sons nas palavras quando fala, se tem dificuldade em associar o som à letra correspondente e vice-versa, se há algum som/letra que a criança não diz ou diz incorrectamente, se a criança se atrapalha a falar porque quer dizer tudo muito depressa, se usa ou usou chucha até tarde, se fala pelo nariz ou se tem dificuldades de interacção com os colegas (ex. os colegas não a entendem), estes constituem sinais de alerta para os pais.

Outros sinais que também se deve ter em conta são se a criança tem mais de 4 anos e gagueja, se a criança se considera gago/a ou se tem medo de falar, se a criança se isola para não falar ou bloqueia e se repete muitas palavras quando fala.

Deglutição/Mastigação

Nesta área é importante estarmos atentos a factores como a criança babar-se ou engasgar-se com alimentos sólidos ou líquidos, não mastigar e engolir os alimentos inteiros, ou mastigar de boca aberta.

Leitura e Escrita

Se a criança chega à idade escolar e apresenta dificuldades ao ler e escrever, tais como demorar muito tempo a ler e fazer muitos erros (ex.: substituições de letras), não gostar de ler, trocar letras quando escreve ou ter uma caligrafia imperceptível, então também deve ser avaliada em Terapia da Fala e em Psicologia para fazer um despiste de Dislexia ou Disgrafia.

Voz

Os problemas de voz nas crianças surgem essencialmente quando estas gritam com frequência ou quando ficam roucas constantemente. Estes dois sinais são aqueles que devemos ter em conta para ir a uma consulta de Terapia da Fala.

Ana Mafalda Filipe, Terapeuta da Fala, Projecto Crescer & Aprender

2 comentários:

Sandra Santos disse...

boa tarde! o meu comentário é mais um pedido de ajuda... tenho um irmão de 6 anos que só come comida passada (só come sopa, pure e iogurtes). Sempre foi assim e até mesmo depois de andar (há 2 anos) na terapia da mastigação não são verificadas melhorias.

Se alguém souber de um caso assim e que tenha conseguido resolver, diga-me pf.

Sónia Pires Pereira disse...

Boa tarde. Se pretender contactar directamente a nossa terapeuta da fala pode fazê-lo através do mail mafalda_tf@sapo.pt Cumprimentos.