sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O Sono na Infância

Os problemas de sono na criança constituem a maior preocupação dos pais nos primeiros anos de vida. O sono é algo essencial para o desenvolvimento do bebé, pois contribui para o desenvolvimento do cérebro, mas os padrões do próprio sono também se vão desenvolvendo à medida que o bebé cresce. Ao longo do tempo o bebé vai aprendendo a criar os seus ritmos de sono, tornando-se mais independente dos pais durante a noite.

À medida que vão conhecendo o seu bebé, os pais vão aprendendo naturalmente a estabelecer uma rotina de sono adequada. No entanto, existem momentos em que o bebé volta a precisar de ajuda para adormecer, tal como acontecia nos primeiros meses de vida. Existem alturas especiais em que o bebé vai dar um passo em frente no seu desenvolvimento e adquirir novas competências (como por exemplo, aprender a andar), mas por vezes, estas novas aquisições podem interferir em conquistas anteriores (como a aquisição de um ritmo de sono regular). Estes avanços e recuos no desenvolvimento da criança são normais.

Durante o segundo e terceiro anos de vida a criança começa a procurar autonomia. É esperado que comece a dizer “não”, percebendo que esta palavra tem influência no comportamento dos outros e diz frequentemente que quer fazer tudo sozinha. Nesta idade, muitas crianças voltam a acordar durante a noite.

Por vezes, os pais sentem-se culpados por terem passado todo o dia fora de casa, no trabalho, e cedem aos inúmeros pedidos da criança, para estarem com ela no quarto durante toda a noite, levantando-se das suas camas ao mínimo ruído da criança. Este comportamento dos pais é compreensível, pois encontram nestes momentos mais uma oportunidade de estar com o seu bebé, de quem estiveram longe durante todo o dia. No entanto, este comportamento não ajuda a criança a aprender a criar o seu próprio ritmo de sono, nem a ajuda a aprender a estar sozinha no seu quarto, enfrentando os seus medos.Por vezes surgem os chamados terrores nocturnos, que começam frequentemente por volta dos 3 anos de idade. Durante a noite, criança senta-se na cama a chorar, tem os olhos abertos, mas não está totalmente desperta. A criança grita, agarra-se aos pais e é difícil de acalmar mas quando desperta totalmente já não se lembra de nada. A luz acesa ou a porta do quarto aberta podem fazer com que se sinta mais segura mas nem sempre são estratégias eficazes nestes casos. Estes episódios fazem parte do desenvolvimento normal da criança e tendem a desaparecer com o tempo. Se a criança continuar a ter terrores nocturnos depois dos 6 anos de idade deve ser considerada a hipótese de uma avaliação psicológica, para despiste de problemas mais graves.

A melhor forma de lidar com os terrores nocturnos é deixar que a criança volte a dormir, sem que ela desperte totalmente durante o episódio. Se a criança andar pela casa deve ser colocada novamente na sua cama. Por mais cómodo que seja levá-la para a sua cama e dormir com ela, evite que isso se repita pois os medos da criança vão aumentar ainda mais, pois ela saberá que esta é uma forma de conseguir dormir no quarto dos pais. Procure que a criança se sinta segura e procure reduzir, durante o dia, situações que possam ser causadoras de tensão para a criança. Na manhã seguinte não deve fazer comentários sobre o assunto, pois geralmente a criança não se recorda de nada.Para evitar que a criança pequena sofra de problemas de sono os pais devem procurar criar um ambiente previsível, onde existam rituais associados ao sono. Entre as brincadeiras diurnas e o sono deve haver um momento de transição, que se repete todos os dias. A fase de excitação dos divertimentos deve dar lugar a uma fase mais calma, que irá preceder o sono. Depois de jantar, a criança não deve ter brincadeiras demasiado activas, nem deve ver televisão (a televisão nunca deve estar no quarto da criança). Neste momento, a criança pode ir à janela despedir-se das estrelas e da lua, dar um beijo de boa noite aos pais e aos seus bonecos, tomar um banho com água morna, ouvir uma canção de embalar cantada pelos pais ou uma história, beber leite morno, etc. Os objectos transitivos (peluche, fraldas, boneco) devem ser utilizados pela criança. Funcionam como substitutos da mãe e oferecem segurança na hora de dormir.

É comum que aos 3 anos a criança procure testar os limites dos pais: “não quero ir dormir”, “só mais uma história”, “agora quero ir à casa de banho”. Nestas idades, as crianças fazem tudo para que os pais não se separem delas e para que não precisem de dormir. Os pais devem ser flexíveis, mas não podem deixar que a criança vá para a cama quando lhe apetecer. Cabe aos pais manter a firmeza e fazer com que a criança volte para a cama rapidamente. Se a criança tiver o hábito de chamar os pais várias vezes, opte por dizer “vou daqui a bocado” e espere algum tempo. Nestes casos, nem sempre é benéfico ir a correr ao quarto da criança, sempre que ela chama. Outras soluções alegadamente “fáceis” como ligar a televisão ou fazer passeios de carro podem funcionar a curto prazo, mas não resolvem o problema na realidade, criando depois ciclos difíceis de quebrar.

Por volta dos 4/5 anos chega o medo das bruxas, dos lobos e dos ladrões. Estes medos não devem ser desculpa para que a criança passe a dormir na cama dos pais. Também neste caso os pais devem dar segurança e atenção à criança, dirigindo-se ao seu quarto, acendendo a luz e mostrando que não há sinais de bruxas nem de ladrões. Converse com a criança, ouvindo com atenção os seus medos sem os desvalorizar, abrace-a, explique-lhe que o seu quarto está mesmo ao lado e que não vai deixar que nada de mal lhe aconteça. Dê-lhe oportunidade para enfrentar os medos sozinha, evitando atitudes de super-protecção. Aqui também os objectos transitivos podem ser uma ajuda preciosa.

Aos 4/5 anos os medos já são mais organizados e são completamente diferentes dos anteriores (terrores nocturnos). Neste caso faz todo o sentido abordar os medos e falar sobre o assunto no dia seguinte, se a criança se mostrar interessada em conversar. Existem estratégias que podem ajudar as crianças a enfrentar estas bruxas e fantasmas. Poderá oferecer-lhe um anel, uma essência, um objecto que brilha no escuro com “poderes mágicos”, que fazem “desaparecer” estes medos.

Para que consiga aprender a controlar o seu sono, ganhar autonomia e separar-se dos pais, a criança tem que aprender a dormir sozinha. O sono inclui ciclos sucessivos de sono profundo, leve e agitado. Com o tempo, a criança aprende naturalmente a lidar com estes ciclos e aprende a encontrar estratégias que permitam um regresso ao sono profundo sem passar por grandes momentos de ansiedade. É importante que se dirija à cama do seu filho para o acalmar, poderá também deixar que a criança durma com um boneco ou um urso de peluche. Estes objectos funcionam como um apoio nos momentos mais difíceis. Nestes momentos segure a mão da criança, fale com ela mas não a tire da cama.

Sónia Pereira

Nota: Este artigo foi publicado no http://www.portaljunior.com

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