sábado, 8 de dezembro de 2007

Ansiedade Associada ao Parto

A gravidez é um período com alguma turbulência ao nível emocional. O final da gravidez marca também o aparecimento (ou aumento) da ansiedade associada ao parto. Para quase todas as mulheres grávidas, o parto é considerado um momento de extrema importância, especialmente o momento específico em que têm oportunidade de tocar o seu bebé pela primeira vez (Garel, Lelong & Kaminski, 1988; Lee, 1995, cit. por Costa, Figueiredo, Pacheco, & Pais, 2003).

Algumas mulheres começam a sentir sinais de ansiedade a partir do sexto mês de gravidez e outras começam a temer o parto a partir do momento em que descobrem que estão grávidas. Sintomas como palpitações, tonturas, medo intenso, pesadelos, queixas físicas e dificuldades de concentração são normais e transparecem a existência da ansiedade associada ao parto. O parto é imaginado como um “salto no escuro”, onde domina o desconhecido, o imprevisível e o risco. Por essa razão, os momentos que antecedem o parto são sempre pautados pela ansiedade.

Quando a ansiedade é excessiva podem surgir consequências negativas, como a possibilidade de um parto prematuro ou tardio, bebés com baixo peso, maior probabilidade de cesariana, menor probabilidade de um parto tranquilo e aumento da probabilidade de uma depressão pós-parto (Saisto, cit. por Kelly, 2002). A forma como o parto é vivido pode também influenciar a relação entre a mãe e o bebé (Costa, Figueiredo, Pacheco, & Pais, 2003).

Existem diversas maneiras de reduzir a ansiedade associada ao parto. Vários autores procuraram reunir um conjunto de estratégias que ajudam a controlar a ansiedade (Kelly, 2002; Johnson, 2002; Sato, 2002):

- Procure identificar a causa da ansiedade
O excesso de ansiedade associada ao parto tem quase sempre uma causa específica. Existem mulheres que estiveram expostas a situações extremamente violentas, como violações, abortos espontâneos, abortos provocados que geraram culpabilidade, infertilidade, partos anteriores com complicações, contacto com histórias de familiares que passaram por partos complicados, etc. O primeiro passo para lutar contra a ansiedade é perceber onde está a sua origem.

- Não espere até ao dia do parto
Comece por prestar atenção aos seus medos no início da gravidez. Fale com o seu médico sobre o assunto ou procure um psicólogo. Ao tomar esta decisão no início da gravidez, terá bastante tempo para se preparar e para colocar em prática todas as estratégias necessárias. Lembre-se que quanto mais preparada estiver menos surpresas terá e menos imprevistos e obstáculos terá que ultrapassar.

- Converse abertamente com o médico ou psicólogo
Fale dos seus medos e não esconda aspectos que considere importantes. Se sentir que está a ser ouvida e compreendida, fale sobre todos os assuntos que a assustam. Ao partilhar os medos sentirá que está a livrar-se de um peso. Além disso, o médico poderá fazer sugestões e tentará ajudá-la a ultrapassar o medo. Não se sinta diferente das outras mulheres e admita que o medo faz parte de qualquer gravidez.

- Informe-se
Procure livros que falem nos diferentes momentos do parto e saiba identificar quais são os primeiros sintomas do trabalho de parto. Informe-se sobre os diferentes tipos de parto, quais os seus riscos e implicações. Saiba quais são as vantagens e os riscos do parto normal e da cesariana. Antes de optar pela cesariana para afastar a dor, lembre-se que a cesariana também não está livre de dor. Neste caso, a dor ocorre após o nascimento do bebé e a recuperação é bastante lenta. Também existe a possibilidade de infecções e complicações.

- Aprenda técnicas de relaxamento
A prática de exercícios de respiração durante a gravidez podem ajudá-la a acalmar-se ao longo da gravidez e no momento do parto.

- Considere a hipótese de começar a fazer Yoga
O Yoga poderá ajudá-la a sentir-se mais tranquila e segura, a concentrar-se melhor, a fortalecer o corpo e torná-lo mais flexível.

- Faça um plano para o nascimento do seu filhoEscreva uma folha de papel que inclua as suas decisões sobre a medicação, as posições no parto, o tipo de parto escolhido e outros pormenores que considere pertinentes. Discuta tudo com o seu médico e no momento do parto não se esqueça de entregar este papel aos outros técnicos de saúde que participam no parto.

- Decida quem vai assistir ao parto
Decida previamente se quer que alguém assista ao parto. A ajuda do seu companheiro pode transmitir confiança e segurança.

- Esqueça histórias violentas
Afaste-se de programas de televisão e documentários relacionados com o parto que contenham imagens violentas e chocantes. Opte por não ouvir histórias de partos que correram mal a familiares e amigas e afaste pensamentos negativos.

- Informe-se sobre os medicamentos disponíveis
Hoje em dia existem várias formas de diminuir a dor durante o parto. Discuta todas as hipóteses possíveis com o seu médico e não hesite em fazer perguntas sempre que ficar com dúvidas.

- Aproveite os benefícios das massagens
Comece a fazer massagens após a 34ª semana, se não tiver contra-indicações. As massagens ajudam a relaxar os músculos e facilitam o parto.

- Frequente aulas de preparação para o parto
Nas aulas poderá obter mais informações sobre a gravidez, parto, exercícios de respiração e relaxamento.

- Adapte o ambiente
Se for possível, procure adaptar o espaço tornando-o mais acolhedor: leve a sua almofada, alguns objectos e músicas preferidas. Aromas como a lavanda e o limão podem ajudar a relaxar e a esquecer que está num hospital.

- Não fique quieta
Durante o trabalho de parto não fique o tempo todo deitada na cama. Se puder, ande de um lado para o outro e mexa-se o mais possível. Desta forma, estará a dar uma ajuda à gravidade e o seu bebé terá mais facilidade em dirigir-se para o local correcto.

- Não deixe que os outros decidam por si
É comum que os amigos, os pais, os sogros e outros familiares queiram ajudar. Com a melhor das intenções dão sugestões, fazem críticas e comentários. Certifique-se que está a tomar a decisão correcta e não se deixe influenciar excessivamente. Não deixe que a pressionem: trata-se do seu corpo, do seu bebé e do seu parto.

Por ser um momento cheio de incertezas e imprevistos, o parto está associado a vários tipos de medo: Medo de não reconhecer correctamente os sinais do trabalho de parto, medo de sentir dor, medo de falhar, medo da ameaça à vida da mãe e do bebé, medo de não conseguir controlar a situação, medo que surjam complicações e medo de não conseguir participar adequadamente no nascimento do bebé. A incapacidade de prever com certezas como irá decorrer o parto pode contribuir para o aumento da ansiedade, assim como acontecimentos negativos ocorridos no passado. A utilização de estratégias de controlo da ansiedade podem facilitar todo o processo e permitir que o parto se transforme num momento muito mais gratificante.

Referências

Costa, R., Figueiredo, B., Pacheco, A. & Pais. A. (2003). Parto: Expectativas, experiências, dor e satisfação. Psicologia, Saúde e Doenças, 4 (1), 47-67Kelly, A. (2002). Do you dread delivery? 10 ways to reduce your anxiety about labor - Labor & Delivery. In Fit Pregnancy. [Electronic version].Johnson, L. (2002). It's only natural: want a drug-free delivery? Here are 5 ways to increase your chances - Labor & Delivery. In Fit Pregnancy. [Electronic version].Sato, G. (2002). No-sweat delivery: from doulas to yoga, 10 tips for an easier labor - Labor & Delivery. Fit Pregnancy. [Electronic version].

Sónia Pereira
Nota: este artigo foi publicado em:
http://www.portaljunior.com/
http://www.associacaoartemis.com

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