sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Terapia contra o insucesso nos estudos

Técnica defende intervenção logo na pré-escola para evitar comportamentos desviantes nas crianças. Um tema em discussão no II Colóquio da Associação de Psicoterapia Pscinalítica.

A psicanálise defende uma intervenção precoce para combater o insucesso escolar. De acordo, com a psicanalista Filomena Dias, o ideal é que haja uma sinalização logo no pré-escolar, para que se possam antecipar as dificuldades das crianças. Os sinais de alerta são variados: Pode ser uma criança muito sossegada ou uma muito irrequieta, indica a técnica.

"Para muitas crianças a escola é um problema. E, nesse sentido, pode fazer-se uma actuação precoce para evitar que esta venha a ter um percurso de risco, de delinquência e de abandono escolar", explica Filomena Dias. A intervenção passa por um trabalho conjunto da psicoterapeuta com os educadores, os pais e a própria criança.

O insucesso escolar é um dos temas que vai ser tratado durante o II Colóquio da Associação Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica (APPSI), que tem lugar hoje e amanhã, no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa. A procura da psicoterapia psicanalítica está a crescer em Portugal, segundo o vice-presidente da APPSI, Fernando Silva. Desta área, a vertente "mais conhecida é a psicanálise, ou seja, a terapia pela conversa para a cura das pessoas", admite o responsável.

No trabalho com as crianças a técnica mais usada é o recurso ao jogo. "Alguns psicoterapeutas têm uma mala de brinquedos, que ajuda a criança a expor os seus medos e as suas angústias", conta Filomena Dias. E "é nesse jogo que se vai trabalhando com a criança", porque se cria "um ambiente menos ameaçador onde ela pode expor os seus problemas", refere a psicoterapeuta.
Apesar de defender que o ideal é que a sinalização seja feita ainda antes da entrada na escola, a especialista reconhece que a maioria dos seus pacientes só começaram a psicoterapia depois de entrar na escola. Isto porque "é nesta fase que os pais se apercebem que há algo de errado".
Muitas vezes o insucesso surge porque os estudantes se sentem incompreendidos. Exemplo disso, é o caso "de um aluno, já do 2.º ciclo que já apresentava comportamentos algo graves", conta Filomena Dias. "Os professores diziam que ele estava sempre na lua, não se interessava e era agressivo", revela a especialista.

Depois da terapia, "veio a verificar-se que ele se sentia incompreendido e tinha dificuldades de aprendizagem e ninguém percebia que ele não conseguia acompanhar os outros e por isso sentia-se irritado. Além de ter um meio familiar e social muito complicado", conclui Filomena Dias.
Mas não existem fórmulas para os bons resultados, como sublinha a psicoterapeuta. E o tempo de tratamento também tem de se adaptar a cada situação. "Há casos em que nove meses ou um ano são suficientes, noutros é preciso mais tempo. Às vezes basta uma vez por semana outras é preciso fazer terapia duas vezes", esclarece.

A duração limitada no tempo e os efeitos a longo prazo são duas mais valias da psicoterapia psicanalítica como indica Fernando Silva. "A terapia só se faz durante um tempo: seis meses, um ou dois anos e perdura no tempo", diz.

O vice-presidente da APPSI lembra ainda que "a psicoterapia é útil porque todos sofremos a dada altura da vida". Por outro lado, o reconhecimento de que se precisa de ajuda psicológica "já não é um estigma em Portugal", garante Fernando Silva.

Uma situação um pouco diferente acontece nos casos tratados por Filomena Dias. Já que "para os pais é difícil compreender que os filhos têm um problema", esclarece. Por isso, no seu trabalho com os pais, a técnica realça que é importante ajudá-los a perceber que não falharam porque o filho tem problemas com a escola.

Fonte: Ana Bela Ferreira DN Ciência

Sem comentários: